Como muito jovens, eu jamais imaginaria que o país pudesse naquele momento mudar de forma tão profunda como ocorrera com Lula nestes últimos anos. Como filho de metalúrgico, os assuntos que me perturbavam eram relativos ao emprego (ou melhor, a falta do mesmo), às variações do dólar e exportação (pois desta variação dependia o emprego de meu pai), e dos sucessos das ações sindicais (que em geral eram falhas e pouco eficazes).
Em meu bairro, muitos outros filhos de metalúrgicos sofriam da mesma pressão, onde pais estafados com aquela situação, às levavam aos seus domicílios, e cobravam da molecada esforço demasiado em seus estudos para que já aos dezesseis, ou se pudessem antes um pouco ingressassem no mundo do trabalho para socorrer da desesperadora situação que o Brasil Pré-Lula colocara a decadente classe média operária, ou pelo menos o que dela restou àquele momento.
Neste Brasil, cansei de escutar que somente aqueles que estudassem nas escolas particulares, falassem ao menos o inglês teria seu lugar ao sol, e que ao resto que procurassem os cursos técnicos, suplicando de porta em porta para que um bico lhe fosse oferecido, ou uma alma benevolente o levasse para uma grande indústria para sofrer o resto de teus dias no chão de uma fábrica barulhenta, que lhe sugaria o seu sangue e suor, que ao final descartaria o que sobrara de sua carcaça.
Cansado de tudo isto, eu e meus colegas de um colégio técnico de São José dos Campos, defendemos Lula e seu programa de transformação, sabendo que àquele momento de fato seria histórico, e irreversível. Lula ainda que tivesse de renunciar a muitas das bandeiras das campanhas de 1998, 1994, e 1989, era líder de um programa coeso e radicalmente diferente do que víamos acontecer no país. Assim, Lula venceu aquelas eleições, capitaneando os sonhos e esperanças do brasileiros, que há muito ansiavam por mudanças.
Ao vê-lo subir a rampa em 2003, o sentimento de medo se transformara em esperança e apoio ao operário, que não falava inglês, não tinha medo de patrão, e que sabia que poderia mudar os rumos daquele país. Em 2005, quando seu governo fora atacado, os brasileiros apoiaram percebendo que aquela atmosfera de conspiração criada pela oposição era de fato estranha.
Naquele ano, 2005, os programas de Lula e as transformações já eram visíveis, o "Fome Zero" era sucesso internacional, o "Bolsa Família" era o meio de ascensão social mais eficaz consolidado no mundo (excluindo as revoluções socialistas), o Luz Para Todos que tirou milhares de famílias da idade das trevas, e o combate a corrupção era sistêmico. Havia eliminado a era dos engavetadores gerais, dos crimes impunes, e da lei de Gérson, ou seja, o legal era ser honesto e competente, uma cultura nova que era desprezada pela nossa vil oposição.
O povo defendeu Lula, pois sabia naquele momento o que estava por vir adiante. Movimentos como o Cansei e da mídia como um todo se aglutinaram na vã esperança de restaurar o poder perdido, articularam uma virada à direita com o PSDB e Alckmin para usurpar do líder operário o Palácio do Planalto. Prometeram a Heloísa Helena um camarote de destaque em meio ao turbilhão anti-Lula, onde desferiu furiosos discursos "à esquerda", que surtiu impactos positivos a campanha direitista. Mas o povo rechaçou o golpe branco, e deu mais uma oportunidade para Lula transformar o país, mudança que a partir de 2007 ganhou nome: Dilma Rousseff.
Neste meio de tempo, em 2006, me filiei ao PT, me juntando a uma grande corrente humana de
sonhos e lutas, onde aprendi e lutei e pratiquei tudo o que me foi disponibilizado.
Dilma, antes ministra de Minas e Energia, que implementou o Luz Para Todos, agora dirigia a Casa Civil, e coordenara o programa-chefe do novo governo, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Se antes se discutiam o motivo do Brasil não crescer mais do que 4%, agora a história é se o crescimento acima de 7% levará a subida dos juros, e da inflação. Nossa ministra que se mostrou competente o bastante para Lula indicá-la, dentre tantos nomes que haviam se mostrado competentes àquela altura.
Dilma representou tudo aquilo que eu e meus companheiros mais acreditamos dentro do PT, não há lugar para carreirismo neste partido, uma hora pode ser dirigente, e na outra volta à base. O PT, deu mais uma demonstração que continua a se renovar, pois em meados de 2008, quem conhecia de fato Dilma, como dirigente política?
A nossa vil direita, encabeçada pela mídia insistiu na tese do 3º mandato, achando que Lula não resistiria a tentação que nem o "príncipe dos sociólogos" pode resistir. Lula se mostrou firme nas suas posições e convicções democráticas, princípio este que abre uma profunda cisão entre Lula e o seu antecessor.
Dilma venceu uma disputa onde a condição de mulher, presa-política, e jamais ter sido uma dirigente política, foi explorado pelo seu adversário de direita, da forma mais suja e espúria possível. Os ataques desferidos a Dilma, pareciam advindos quem sabe da inspiração dos tribunais da Santa Inquisição, onde o adversário tinha laços enraizados até o último fio da campanha. Movimentos e partidos como a TFP, Monarquistas, Mídia, Igreja, DEM, PSDB, PPS, e setores organizados do crime que o PSDB criou em São Paulo, mobilizados para fazer o jogo virar em favor de Serra, sem sucesso.
O resultado das urnas foi favorável a Dilma e ao PT, onde gozará de governabilidade como nunca antes na história deste país. Dilma receberá das mãos de Lula um país decente, promissor, e líder no cenário global. Internamente mais equilibrado, e ciente do que poderá fazer daqui em diante.
Hoje oito anos depois, vejo o quanto mudara a situação de minha família e de meus amigos. Todos na casa trabalham, ainda que o salário não seja o suficiente para gozarmos da vida que gostaríamos, dentre meus amigos à aqueles que ficaram aqui, resistiram à maré e hoje podem se orgulhar de conquistas como um carro, uma casa, e seus eletrônicos. Outros que foram se aventurar fora, voltam em busca de emprego pois o mundo exterior se esvaiu em especulação, e falar inglês não importa mais...
Dilma dará prosseguimento ao que Lula construiu e a novos tempos onde a linguagem da vez é o humanismo, e o que importa de verdade são os valores solidários, e fraternos. A sociedade dará neste 1º de janeiro as boas vindas a Dilma Rousseff, e a Lula um até logo, pois ainda o veremos muito aqui em SP!